O que o caso Americanas nos ensina sobre gestão financeira e governança

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O caso Americanas, evidenciado no dia 11 de janeiro de 2023 após anúncio de uma “inconsistência” contábil de pelo menos R$ 20 bilhões, tem gerado um efeito dominó no mercado. 

O primeiro impacto foi sentido nas ações da própria varejista, que chegaram a perder mais de 90% do seu valor nos dias seguintes à notícia. 

Chegou a contaminar também as ações de outras empresas do setor, com o mercado assustado e tentando assimilar o que de fato aconteceu. 

Em seguida, alastrou-se para o mercado de crédito, com baixas substanciais no preço de debêntures e inadimplência dos juros. 

E chegou à economia real, com a suspensão de pagamentos aos credores, incluindo aluguéis devidos a diversos fundos imobiliários, após o pedido de recuperação judicial.

A extensão dos danos do caso Americanas ainda está sendo dimensionada, mas algumas reflexões podem ser retiradas.

Afinal, o que esse episódio, que não é o primeiro e dificilmente será o último, pode nos ensinar sobre a importância dos princípios ESG para startups?

O que o caso Americanas ensina a gestores, contadores, auditores independentes e órgãos reguladores sobre gestão financeira e boas práticas contábeis?

Ao longo deste artigo, vamos abordar algumas lições que podem ser úteis ao dia a dia do seu negócio, independentemente do tamanho ou da fase em que se encontra.

Lições do caso Americanas para as startups

O caso Americanas demonstrou que nem sempre é possível enxergar com clareza o que de fato acontece dentro de uma empresa, mesmo as de capital aberto.

Dentro da B3, a bolsa de valores brasileira, a varejista integrava o Novo Mercado, o segmento destinado às empresas com o mais alto padrão de governança, e o ISE B3 (Índice de Sustentabilidade Empresarial).

Era auditada por uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo e, mesmo assim, as inconsistências bilionárias passaram despercebidas.

Se o caso Americanas foi causado por erros de lançamentos ou fraude, cabe à Justiça determinar.

Para startups, ficam algumas lições que ajudam a refletir sobre a importância de gerir os negócios com ética e profissionalismo, integrando boas práticas à cultura organizacional e ao dia a dia.

1. A importância do ESG (sobretudo o “G”)

A sigla ESG, do inglês “Environmental, Social and Governance”, tem sido cada vez mais usada no contexto empresarial, mas é importante ir além do discurso.

No caso Americanas, apesar de a empresa integrar índices respeitados de sustentabilidade e governança, especialistas afirmam que uma política ESG estruturada poderia ter evitado o problema.

A julgar pelo tamanho das cifras, era de se esperar que, em algum momento dentro dos níveis de governança, o lançamento inadvertido do “risco sacado” no balanço seria identificado.

Vale ressaltar que governança corporativa, inclusive no universo das startups, é sustentada por quatro pilares essenciais:

  1. Transparência: divulgação aos interessados de todas as informações relevantes e não apenas as impostas por leis e regulamentos
  2. Equidade: tratamento justo e isonômico a todos os stakeholders
  3. Prestação de contas (accountability): relatórios claros, concisos, compreensíveis e tempestivos
  4. Responsabilidade corporativa: zelo pela viabilidade econômico-financeira da organização, de maneira a otimizar os resultados e reduzir os impactos das externalidades negativas.

O caso Americanas, segundo o procurador da República e professor de Direito Penal Rodrigo de Grandis, será um divisor de águas no âmbito da governança corporativa no Brasil.

Em artigo, ele diz que, “sob o aspecto penal, o caso revela uma lacuna de punibilidade que, em outros países, seria tipificada como crime de infidelidade patrimonial”.

2. Os riscos da “contabilidade criativa”

O caso Americanas trouxe à tona uma prática comum usada por empresas do varejo: o chamado “risco sacado”.

De maneira resumida, trata-se de uma antecipação de recebíveis intermediada por uma instituição financeira que encurta o prazo de recebimento para quem vende e alonga o prazo de pagamento para quem compra.

No caso Americanas, conforme o fato relevante divulgado no dia 11 de janeiro, os lançamentos contábeis redutores da conta de fornecedores não refletiam as operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem.

Sabemos que gestores e contadores podem usar dos artifícios da contabilidade para reduzir a carga de impostos (planejamento tributário), ajustar resultados ou fazer projeções financeiras.

As práticas adotadas, no entanto, devem ser legítimas, dentro dos limites da legislação, e não podem ser usadas para mascarar a realidade.

3. A interpretação além das demonstrações financeiras

Outra lição do caso Americanas, tanto para gestores quanto investidores de startups, é analisar a situação além dos “números frios” das demonstrações financeiras.

Em um caso recente no Brasil envolvendo também uma empresa listada em bolsa, uma gestora de ações concluiu, com base em suas próprias interpretações, que os resultados da referida empresa estavam inflados.

Quando a situação veio a público em um relatório de 184 páginas, as ações da empresa derreteram, a diretoria foi substituída e os dados de balanços passados foram revisados.

No contexto das startups, a interpretação das demonstrações deve considerar, além dos números em si, informações subjetivas e mercadológicas que possam ajudar na compreensão dos fatos.

4. Profissionalização contábil

Por fim, o caso Americanas ensina que é fundamental profissionalizar a contabilidade, sobretudo de startups que almejam o crescimento exponencial e a escalabilidade.

No contexto da gestão financeira, há diferentes caminhos para estruturar uma operação, seja por meio de capital próprio ou de terceiros.

As práticas adotadas, no entanto, precisam estar alinhadas aos princípios contábeis, sustentadas por um plano consistente de curto, médio e longo prazos.

O episódio demonstra ainda que, em uma rodada de investimentos, o processo de due diligence deve ser aprofundado e rigoroso, de forma a esclarecer e evidenciar os fatos e reduzir o risco de inconsistências.

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